Venho de uma família de italianos, onde todos cozinham muito bem! Fui privilegiada por poder, desde cedo, acompanhar a produção caseira de várias delícias.
Se era pra comer macarrão, era aquele feito de véspera, produzido a massa fresca com ovos caipiras, passado no cilindro para abrir a massa! Se fosse o talharim, cortávamos no cilindro também, depois que a mãe trocava o tambor, e nos pedia para ajudar com a manivela! Saíamos todos cobertos de farinha de trigo!
E se fosse espaguete, a máquina era diferente, fixada numa mesa de madeira com um furo dentro! A massa era mais mole, e após formado os fios, era passado no fubá, para não colar.
E a massa ficava descansando sobre a mesa! Enquanto isso, a mãe preparava um belo molho de tomates com frango caipira! Que memórias boas! Se fecho os olhos, sou capaz de sentir o cheiro de tudo isso!
Hoje, tanta coisa mudou!
Se falar para alguém que faço macarrão com molho de tomates e frango para meus filhos, vou ouvir dos mais corajosos: Com farinha branca ou integral? Com glúten? E lactose? Sabia que ovo faz mal? Sabia que no frango tem hormônios? Tomates são puro veneno! …
E os que não me questionarem, vão torcer o nariz e me considerar uma péssima mãe!Fico triste em saber que, atualmente, a relação das pessoas com a alimentação não se restringe a ingredientes, e sim a componentes! E a alimentação deixou de ser um prazer, para se tornar um fardo.
É claro que muita coisa mudou, a oferta de industrializados nos levou a consumir mais que ingredientes em suas formulações! E me arrisco a dizer que o marketing das indústrias também colaborou.
E nos fez acreditar, por exemplo, que consumir um ovo toda a manhã é prejudicial, porém, tomar um iogurte industrializado toda a manhã é saudável?
Todos viraram expert em ingredientes que nossos avós nunca ouviram falar! Chia, quinoa, amaranto, goji berry… sem falar nas dietas, que tirando meia dúzia de ingredientes, o restante é encontrado em prateleiras de lojas esportivas.
E do outro lado da mesa, estão nossos filhos! Escutando essas falácias sobre alimentação! O que será que estão absorvendo sobre alimentação?
Qual será a memória afetiva que estamos construindo pra eles?
Você já parou pra pensar, qual o impacto causamos numa criança, quando taxamos um alimento de “veneno”?
Isso é o chamado Terrorismo Nutricional, que “demoniza alimentos e vem apoiado num discurso supostamente científico – mas que, muitas vezes, não passa de pseudociência – o chamado de “nutricionismo”.
É um termo inventado por Gyorgy Scrinis, professor de Política Pública de Alimento e Nutrição na Universidade de Melbourne, Austrália, a partir da junção de “nutrição” e “cientifismo” (excesso de ciência)”. Segundo a nutricionista, autora do livro O peso das dietas, Sophie Deram.
Hoje, acredito que uma alimentação variada, composta em sua maioria de alimentos orgânicos e frescos, e preparações simples, mais cheias de temperos naturais faz mais sentido do que uma alimentação cheia de proibições e ditaduras.
Vamos fugir do terrorismo nutricional? Vamos resgatar a alimentação da nossa infância, ou da infância dos nossos pais e avós.
O equilíbrio é a chave!